domingo, 2 de agosto de 2015

Tem que renunciar ao mundo antes que ele te renuncie




“Quando alguém me diz que está triste é porque falta um santo em sua vida. Mas os santos estão por aí... Os santos são aqueles que buscam fazer o melhor de si, não é referente a uma pessoa que nunca cometeu um erro.”


Meus queridos devotos e madres, um abraço de Montevidéu.
A meditação desta manhã é a importância dos santos em nossa vida. Quando é humilde, se dá conta da grandeza que são as personalidades que estão ao seu redor. Quando não é humilde, pensa: “Os santos estão aí no altar” ou “Os santos apareceram há 2.000 anos” ou ainda “Eram mais generosos 500 anos atrás”.
A falta de sentir a presença dos santos protetores nos faz triste internamente. Quando alguém me diz que está triste é porque falta um santo em sua vida. Mas os santos estão por aí... Os santos são aqueles que buscam fazer o melhor de si, não é referente a uma pessoa que nunca cometeu um erro. Há um ditado que diz: “Cada pecador tem um futuro e cada santo tem um passado”.
Krishna diz:

api cet su-duracaro
bhajate mam ananya-bhak
sadhur eva as mantavyah
samyag vyavasito hi sah


“Ainda que um santo cometa um erro grave, se continuar servindo deve ser considerado um santo.”


Mãe do céu! Está difícil!
Não, não, não é difícil, é bom, já que o Senhor é generoso com seus servos caídos. Cometemos erros, mas há um erro que é maior que outros erros: o de ver erro onde não há erro e divulgá-lo; este é o departamento da fofocaria, planos mentais. Quem divulga algo que não é certo se responsabiliza por uma ofensa.
Por isso:

vaco vegam manasah krodha-vegam
jihva-vegam udaropastha-vegam
etan vegan yo vishaheta dhirah
sarvam apimam prithivim sa sishyat


“O impulso da fala, da mente e da ira
O impulso da língua, do estômago e do órgão sexual
Estes impulsos devem ser tolerados pelo firme, ou dhirah
E assim poderá no mundo ser mestre espiritual.”


Pregar é nossa atividade principal. Se fecharmos a boca, então como vamos pregar? Mas ao mesmo tempo devemos controlar a língua. Por isso Srila Rupa Goswami nos dá a fórmula da felicidade, ele disse no Upadesamrta. Ele era um santo da consciência de Krishna, ele sabe de todas as dificuldades que vamos passar, e assim como Caitanya Mahaprabhu no Siksastakam, nos salva se dermos importância.
Lembro de outra coisa, estamos no mundo dos territórios. O mundo material se chama “O mundo de Maya”. Maya significa “medir”. Sobretudo queremos medir os lotes, os terrenos: “esta é a medida”, ou a medida: “Eu sou supervisor, você é supervisionado”, qual é a medida entre nós?
Por todo lado há medida, não apenas medida no chão. Há medidas no banco, há medidas nos privilégios: “Quem pode usar o carro do escritório?”, coisas assim. Há privilégios, há medidas em todos lugares e onde há medida há Maya. Então, estamos enfiados no mundo das medidas até a cabeça. O que fazemos? Temos que perder tudo para nos dar conta que as medidas não são o que é.
Quando você compra uma casa, qual é a medida? Primeiramente tem que escriturá-la. Se não estiver escriturada, não é sua. Pois a escritura tem que ser registrada no Cartório, certo? Se não tiver registrado no Cartório outra pessoa ainda pode vender a casa. Quando você não registra, fazem toda uma bagunça. Muitas coisas foram vendidas cinco vezes a cinco pessoas porque foram bobas, porque não registraram. Não nos asseguram quem está registrado no Cartório, porque você apenas pode comprar de alguém que esteja registrado no Cartório, caso contrário, a venda é fictícia.
Eu te vendo a praia de Montevidéu. E como sabe que me pertence? Alguém diz: “Eu gostaria de comprá-la, e pronto”, quando for ao Cartório mandarão a polícia dizendo: “Chegou um louco que diz ser dono da praia de Montevidéu”. Todo engano começou assim. Como se chama isso? Ocupação. Ou também se chama a lei da conquista.
Quem ocupa e registra é o dono. Isso é Maya, isso é a guerra dos territórios e nós fomos treinados desde que nascemos na guerra dos territórios. Inclusive há territórios que são mais sagrados, mais confidenciais, que são os territórios do coração de cada um. Sabe como entrar aí? Esse é outro mundo. Sabe como se chama o mundo? O mundo dos céus. Incrível!
Também os céus fazem medidas. Não pense que medida é só um metro, um pé. Não, não, não, a maya da medida vai por outro lado. A medida é: “Me quer ou não me quer? Me quer ou não me quer?”, a medida é ver se me quer ou não. Um exemplo territorial: Eu uma vez estive na Hungria, e uma madre, ainda minha amiga, me disse: “Você e o swami pregam apenas às meninas jovens e bonitas, a nós não pregam, nos deixam de lado.” Foi a medida, quando fala com A, quando fala com B, quando fala com C., são novos e se não são devotos precisam que seja dedicado mais tempo a explicar. Agora, “Você acredita que eu não te quero porque é mais velha de idade ou porque elas são loiras?”, isso é mundano, isso é uma manifestação territorial do medir.
É claro que todos querem ser importantes e atendidos. Tranquilo, todos somos importantes, porque somos parte de Krishna e todo mundo que é parte de Krishna é importante. Não há ninguém que possa dizer “só ele ou ela é importante”, para Deus todos somos importantes. Por aí a coisa caminha.
Medir é o princípio de toda forma de engano, inveja ou ciúmes. Também medir é outra forma que a autoestima se fere. A educação que recebemos nos fez pensar que aquele que não conquistou terra não tem nada. Mas todos os territórios, todas as medidas, não importam quais sejam, são derrotadas pelo tempo.
Os papéis das notas não servem para nada em 500 anos. Um lugar já teve muitos donos antes, ninguém saberá quem é o dono real de nenhuma casa. Ou melhor, se sabe que ninguém é dono das terras. Inclusive o matrimônio é uma medida. “Bem, vamos ao juiz agora e nos casamos”, o juiz pergunta “Todo dinheiro que ganhem pertencem aos dois?”, e eles dizem “Não, não, não, isso não quero. Quero casar, mas em separação de bens”, isso é outra medida. Está tomando outra medida para saber se a medida favorece.
Todas as medidas são cálculos e todas as medidas são ilusões que vão revelar um fracasso no final. Por isso, uma pessoa devota tomará outra medida, e a medida do devoto é a que ele diz:

        - Tudo é de Krishna. E o que chegar em minhas mãos vou registrar em nome de Krishna, porque eu quero que seja de Krishna.

E registrar algo em nome de Krishna não é fácil. Vá ao cartório e declare:

- Quero doar esta casa ao Senhor Krishna.
- Quem é Krishna? Me dê o número de passaporte. Qual é o seu mandato?
- Ah, não, Ele é Deus.
- Ah! Aqui Deus não registra nada, não é dono de nada.

Vê a loucura das medidas? Não pode dar a Deus algo porque Deus não existe aqui legalmente. Ele não é uruguaiano, sentimos muito.
Atenção: Na Índia você pode registrar legalmente uma propriedade em nome de uma Deidade. E pode ter dois pais: o biológico e o mestre espiritual.
O Guru é um pai legal na Índia. Quando eu firmei meu nome na Índia: Paramadvaiti Swami, filho de Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Isso é legal porque é meu guru. Como ele foi meu guru, eu tenho o dever de repetir o que ele ensinou. E se alguém vir a Prabhupada hoje e dizer: “Quero doar uma casa a Prabhupada, a quem dou? Paramadvaiti Maharaj, venha aqui... Você em tantos anos com Prabhupada, quero que você ofereça isto a Prabhupada.” PLIM! Doa a casa. Então, a casa não é minha, mas ao dar a casa a Prabhupada, tenho que garantir que será usada para Prabhupada.
Quando o absoluto e o relativo se encontram há choque, porque tenho que adaptá-los, tenho que aprender como fazer isso. Como combinar o Absoluto com o relativo. O ensinamento puro absoluto é perfeito, mas o relativo também é parte do Absoluto.

om purnam-adah purnam-idam
purnaat puranm-udachyate
purnasya purnam-aadaaya
purnam-eva-avashishyate

Então, harmonizar entre o relativo e o absoluto. Isso fazem os sábios, os santos. E quem são os sábios? Vocês. Vocês são os sábios, e se forem sábios de pouca experiência, tem que ajudá-los. Abrir sua visão, ampliar o horizonte. Assim, é uma escola de se tornar brahmana, uma escola de se tornar santo. Esqueçam os territórios, tudo pertence a Krishna. E todo aparente território está perdido.
Dou mais um exemplo, falando do território matrimonial. Às vezes as pessoas se casam e a esposa pensa: “Você agora é meu esposo, depende de mim, etc.”, ou o esposo pensa o mesmo da esposa e a trata mais ou menos como uma prisioneira. E se a outra pessoa não reage como quer, já começam as brigas. Isso sobre as medidas do matrimônio são totalmente diferentes, na verdade, deve aceitar que Krishna tem que ser posto no centro, Krishna deve ser o critério máximo.
As medidas que você toma em seu matrimônio devem ser guiadas por um santo, não podem ser resultado de como você mede as coisas com sua mente, isso é um risco. Se você quiser saber o que está bem ou mal, tem que perguntar ao mestre espiritual, ele te dirá o que é melhor e ambos no casal dizem: “Gurudeva disse isso, que felicidade que nos deu uma instrução”. Um bom matrimônio é feliz com essa consciência e asseguro que assim nunca haverá um choque entre vocês, pois o Guru é o melhor amigo do casal.
Mas veja, quase sempre todos os matrimônios têm conflitos territoriais. Territoriais financeiros, territoriais de tempo, territoriais do departamento. Entre casados, entre irmãos, o que dizer das pessoas que nem se conhecem.
Quando uma mulher me diz:

- Eu acredito que meu esposo está me enganando.
E eu pergunto:
- É verdade que ele está te enganando? Está segura?
- Sim, estou segura.
- Tem prova?
- Sim, tenho prova.
Então ela pensa que agora que vou me chatear, mas minha resposta é:
- Parabéns.

Por que eu felicito uma pessoa que foi enganada por seu par? Qual razão eu tenho para felicitar? É a seguinte: Este território que você pensava ser seu, acaba de se romper, ele não é seu. E ele não respeita seu coração e é melhor que saiba agora do que se dar conta só quando tiver 88 e perceber que foi enganada toda a vida. É melhor um fim com susto que um susto sem fim.
Então, se uma coisa for fraudulenta, se algo for falso, é melhor que se revele logo. Parabéns. No fim se dá conta que a coisa não anda. Claro que é triste, eu também choro quando me inteiro de histórias assim. Então, territórios, só Krishna sabe quem é quem, todos os territórios são dELe, nós somos estudantes, aprendizes. Krishna nos dá as oportunidades.
Para saber como manejar...
- Aqui tem US$10 mil, o que fará?
Como a história do filho pródigo, o pai lhe dá dinheiro, ele investe e o aumenta. O pai diz:
- Muito bem.
Ao outro filho dá o mesmo, e ele o desperdiça, se intoxica, faz toda a estupidez e desaparece. Onde está? Não sabemos. Mas três anos depois volta ao pai:
- Eu fui o maior estúpido, desperdicei tudo o que me deu.
O pai o toma em seus braços, e o outro filho que investiu bem diz:
- Pai, como o trata assim? Esse daí merece chicote!
- Não, mas este é o meu filho.
Ensinamentos, sabedorias...
Agora quero dar a chave da felicidade na consciência de Krishna. Esta joia é o Upadesamrta, texto 5:
“Devemos honrar mentalmente ao devoto que canta o Santo Nome do Senhor Krishna. Ou qualquer outro nome de Deus. Quem canta os Santos Nomes de Deus tem que ser respeitado.”
Inclusive alguém que cante à Pachamama, a Pachamama não é Deus, mas é o aspecto da misericórdia de Deus. Quem canta à Pachamama, também respeitamos. Se você não respeitar as pessoas que cantam o Santo Nome, de alguma maneira estará semeando a sua própria tristeza.
Depois, deve oferecer humildes reverências – quer dizer com a cabeça no chão – ao devoto que se submeteu à iniciação espiritual diksa e está ocupado em adorar a Deidade. A quem adora a Krishna na manifestação da Deidade: minhas reverências a você.
Não: “Olá, prabhu. Dandavats. Me dá licença na passagem.” Devemos ser muito respeitosos e atentos. As relações devem ser doces no tratamento, de muita convicção e apreço. Não pode adorar a Goura Nitay se não adorar ao Seu devoto. O devoto pode cometer falhas, está no processo, mas o que puder dar é muito mais valioso para ti.
Logo, o verso continua:
“E devemos nos associar e servir fielmente ao devoto puro que está à frente quando ao serviço devocional, executando sem desvios e cujo coração está sempre livre da propensão a criticar aos demais.”
 Aos devotos avançados, devemos servi-los e escutá-los. Aos que perdem tempo falando mal de outros: não perturbem, não tenham tempo para eles. Para que você possa ser feliz na consciência de Krishna, há três chefes:
Um: É o chefe menos avançado que você. Por que ele é seu chefe? Porque é seu dever dar a mão para ele levantar, ele é seu chefe porque ele te diz o que fazer. “Me ajude”, “Sim, sim, vamos. Pegue aqui na minha mão”, essa é a primeira relação, ajudar as pessoas que sejam menos avançadas que você.
Dois: Fazer uma amizade inabalável com as pessoas que também estão na luta como eu. Vamos à realidade: todos estamos aqui na luta. Não é que logo fechamos os olhos e os pés de Krishna se manifestam em nós como uma lótus brilhando. Todos estamos na luta, não há dor nem pena admitir que estamos todos aqui lutando. Mas os que estão na luta pela causa da nossa missão em Montevidéu, os que estão identificados, com eles faça uma amizade bem apegada que ninguém os separe. Super cola. Assim tem que ser com todos que estão na luta.
Para que a amizade possa amadurecer mais e crescer aumentando seu círculo de amigos. Sempre há complicações, é natural, mas como eu sou amigo, busco ajudar quando me pedem. E quando não me pedem, talvez eu não possa fazer nada. Mas se eu vejo a um devoto avançado que está servindo ao meu guru seriamente, neste caso eu devo oferecer minha plena colaboração. Não apenas: “Eu gosto de você, reverências, Haribol”, mas “O que precisa? O que faço?”, chega na festa de domingo “Trouxe uma preparação. Divulgo convites? Eu posso fazer o anúncio, o que você quiser”.
A todo mundo tem que dar tempo, a todo mundo tem que dar consideração. Isso é Consciência de Krishna. Todos os problemas na vida espiritual têm solução. Não existe situação que não haja solução. Porque a medida do Senhor Krishna é de nos resgatar da ilusão, por isso Prabhupada veio ao mundo, por isso o temos no altar, por isso temos Gurupurnima, para celebrar.
Esperamos que Gurupurnima traga muita luz, clareza e muita alegria para todos. Porque vamos seguir lutando assim como é. Porque eu também venho lutar pelo Uruguai e por seus devotos, aos santos mensageiros que seguirão em frente, porque repito: Estamos acabando de começar.
Vocês não sabem que alegria me dá ver aos devotos felizes no templo. Por exemplo, aqui, na vez passada, faz um ano, éramos como cinco ou quatro recém fazendo a primeira equipe. Então me dá muita alegria ao ver o progresso, e por favor: União faz a força. Solidariedade e amor.
E poder nos sentir felizes, porque não há território, porque todos os territórios pertencem a Krishna. Reconheçam: Quem não reclama de território não tem problemas territoriais. Por isso os renunciantes, brahmacaris, vishnupriyas, sannyasis são tão felizes, porque não têm nada. Há grihastas renunciantes também.
Quando se tem coisas, tem sua independência, faz sua própria economia, busca lutar sozinho. Mas naturalmente disso temos um pouquinho cuidando dos espaços conseguidos. Mesmo que tudo seja ilusão, porque no momento da morte não leva nem sua kanti mala, enquanto isso se trai de tanto calcular quais são suas coisas neste mundo.
Todo território é de Krishna, essa é a sabedoria, tem que aprender aos bons modos: “Tem que renunciar ao mundo antes que ele te renuncie”. Outro ditado: “Tudo o que não der é o que perderá”.
Veja que sabedoria é a que tinha Rupa Goswami ao escrever isso anos atrás. O Senhor Caitanya também disse coisas, uma das mais importantes: Trinad api sunicena. Sem trinad api sunicena não pode viver em um templo, sem humildade não se apaixona pelos devotos.
Jay Sri Krishna, Jay Sri Krishna!
Sri Caitanya Mahaprabhu!
Srila Prabhupada ki jay!

Com afeto.
Seu sempre bem-querente,

Swami B. A. Paramadvaiti.

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