domingo, 31 de maio de 2015

A dualidade: tem que tolerá-la e aceitá-la





“Às vezes pensamos que o prazer efêmero do momento é o mais importante, quando na verdade o importante é o prazer de Krishna.”



Meus queridos devotos.
Estar contra o relógio sempre é um pouco pesado, mas a vida sempre é contra o relógio. Temos apenas uma chance que é sair correndo para frente neste mundo, o samsara. Cada instante conta, cada minuto, pensamento e cada palavra contam.
Às vezes pensamos que o prazer efêmero do momento é o mais importante, quando na verdade o importante é o prazer de Krishna. Que Krishna satisfaça-Se com tudo o que você fizer, é importante. E por isso às vezes tem que sofrer. De certa forma, a vida é marcada pelo sofrimento, claro que também há alegrias, mas marca-se pelo sofrimento.
A primeira coisa é sair do ventre, parece impossível que uma criança desse tamanho saia por uma abertura tão pequena, ou melhor, é quase impossível imaginar como o corpo da mãe abre-se tanto a fim de permitir sua saída.
Assim é a vida, é cheia de dores, grandes dores, dores necessárias, karmáticas e desnecessárias. A maioria das dores é desnecessária, isso é o mais engraçado. Por que cai uma pedra no meu pé e dói? Bem, é natural, mas há dores que não sei, como exemplo os ciúmes que fazem sofrer gratuitamente a muitas pessoas. Das pessoas ciumentas às vezes caem seus cabelos ou vivem muito nervosas.
Eu tenho a solução para os ciúmes, se alguém lhe for infiel, deverá lhe dizer “obrigado”, não tem que perder mais tempo servindo alguém que não vale a pena. Não pode estar com alguém que não quer estar contigo, não pode querer impor sua presença, sua existência sobre alguém que não quer estar contigo. Não é razoável? Claro que no caso de já ter três filhos é diferente. Em tal caso é falado de contratos firmados no registro karmático, porque quem deixa filhos jogados, muitos nascimentos é garantido que lhe esperam. Por isso deve-se ser muito cauteloso, orar muito a Krishna, a Deus orando e orando, não aos demais, não ao ego e à luxúria.
Assim sofre-se no mundo, e sofrer para Krishna é bom, por isso eu não tenho medo quando mando alguém para Santa Martha ou para Varsana e passam por alguma tapasya. Eu não tenho pena, porque foi por algo complexo. A dualidade: tem que tolerá-la e aceitá-la, trata-se de impressões temporais dos sentidos, felicidade e tristeza. Está feliz porque tem cabelo, mas quanto sofrimento com o shampoo... em contrapartida, se estiver calvo estará poupado do shampoo, mas de repente não gosta. Cada coisa tem sua vantagem.
Então, há sofrimento onde quer que seja. Envelhecer poderia ser chamado do pior dos sofrimentos, porque na velhice há poucas coisas boas, pois falha a vista, a audição, o olfato, o movimento, falha tudo e dói tudo. Dificilmente sentirá que está estático se não realizar antes de chegar a essa realidade temporária que não é este corpo. Aí sim vale mais realizar isso na velhice, porque este corpo é problemático, nenhum corpo velho funciona perfeitamente.
Então, este corpo material é um lugar de sofrimento. Diz Krishna no Bhagavad Gita: “É curto e miserável. O que estamos fazendo aqui então? Como nos metemos aqui? O que aconteceu quando nos enfiamos no mundo material?” Talvez tenhamos ainda a ideia de que tudo será bonito, tudo belo, “serei uma mulher adorada” ou “um homem admirado, bonito e tudo me sairá bem”.
Em Consciência de Krishna a coisa é sensata e vale a pena sofrer, não tem que pensar que chega na Consciência de Krishna e vai acabar o sofrimento, isso é mentira. Faz sentido sofrer para o Senhor em um serviço amoroso, isso nos aproxima ao Senhor do Amor e do Sofrimento.
Àquele que quer casar, meu mais profundo pêsame. Se celebramos o matrimônio como algo glorioso é porque há dois sacrificados que aceitaram entrar o sofrimento, tudo isso apenas para favorecer às crianças que chegarão. Se não houver pai e mãe que sofrem por seus filhos, então não há nada.
Não é uma publicidade para “Matrimônios Conscientes”, mas o ato de um homem e uma mulher casarem e fundarem uma boa família, os fazem mais sacrificados que os brahmacarys. Ser brahmacary é um super sacrifício, mas se for brahmacary para pregar, não para fugir de responsabilidades. Do contrário, não é um brahmacary, é um fujão dos deveres humanos. O brahmacary pregador rendido ao Guru tem uma desculpa, uma boa desculpa para não gerar seres humanos e são eles que geram consciência nas pessoas em nome do Guru, as cuidam para que convertam-se em boas devotas e pregadoras.
Isso é muito importante e sempre dou muito graças a Srila Prabhupada que me salvou do matrimônio para servi-lo, mas tenho que trabalhar muito duro, como se tivesse 10 filhos e não é falso. Claro que o trabalho também é ler livros, tudo o que faz um brahmacary também é um tabalho, estudar para ser bom pregador.
Estas coisas são contadas com certas doses de piada. Melhor dizendo, o mundo material é como um ditado alemão que diz: “Fazer cara bonita ao buraco feio”. Mesmo que aconteça algo mau, ainda assim sorriremos.
Imaginem, sou uma pessoa social e estou envolvido com muitas famílias, chegam a mim todos os dias notícias de nascimentos, mortes, divórcios, enganos e traições entre todas as circunstâncias. E depois tenho que parar diante das pessoas e mostrar uma cara feliz e falar: “Como estão, queridos amigos? Façamos projetos bacanas, temos que seguir em frente, não vamos baixar a guarda, etc.”
Não pensem que seja sempre fácil fazer a cara bonita ao buraco feio, mas assim é a vida, assim nos move, move a mim porque voluntariamente aceitei este serviço de mendigo de amor, peregrino errante, e não posso me queixar porque eu escolhi.
Quando tinha uns 13 anos de idade, eu me deprimia pelas guerras, lia aos jornais e estava a ponto de entrar neste abismo que se chama depressão, dizia: “Nada vale a pena, o que farei?”. Mas foi quando tive a iluminação e disse: “Se eu posso chorar por tudo, por que em vez de chorar não rio de tudo e adoto uma atitude positiva na vida?”, e assim tomei uma atitude otimista, tomei a atitude de rir de tudo.
Por isso, sempre me veem com um sorriso, e não é artificial. Se vocês olharem bem, a verdade é que há muitas coisas lindas que nos levam a rir. Quando vejo vocês, por exemplo, me parecem pessoas lindas, mesmo conhecendo muitas falhas suas, isso não me faz pensar que não sejam pessoas lindas, ao contrário, me parecem pessoas lindas na linda luta que decidimos levar junto a diante.
Podemos nos assegurar do êxito, lograremos algo porque não há outra opção.

Seu sempre bem-querente,

Swami B. A. Paramadvaiti.

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