A Consciência de Krishna é o compromisso com o
amor ilimitado
“Devemos ver a divindade em todos os seres, pois Krishna
disse no Bhagavad Gita: “Quem Me vê em todos os lugares e vê tudo em Mim, Eu
nunca Me separo dele e ele nunca está perdido para Mim.” Krishna está conectado
com cada um de nós, porque Krishna nos ama, porque reside em nosso coração. Não
é possível estar separado dEle e Ele nunca se separa de nós. Krishna disse: “Eu
te amo e quero te dar conhecimento, lembrança, esquecimento, mas a Mim só pode
conhecer com o teu amor, com tua rendição, não com desconfiança ou especulação
intelectual. Sou acessível somente com as lágrimas sinceras do teu coração.”
Queridos
devotos, recebam todo o meu afeto de Miami Mandir. Hoje quero falar sobre o
maior amor que conheci. Para começar, quero oferecer minhas sinceras
reverências ao meu Mestre Espiritual Srila Prabhupada, que é o salvador da
minha vida. Antes de conhecê-lo, não sabia nada sobre o amor, só tinha a
experiência do maravilhoso amor que recebi da minha mãe. Mas, mesmo o amor de uma
mãe que é uma das representações de maior amor desinteressado que podemos
conhecer, não se compara ao verdadeiro amor, que está por cima de qualquer
concepção material. Isto é algo importante de entender. Se ainda assim queremos
saber sobre o amor divino, devemos buscar identificar quais são os exemplos
mais próximo a isso, por exemplo: o amor de uma mãe, o amor de um casal e o
amor espiritual transcendental. O amor de mãe é elevadíssimo, porque está
preenchido de abnegação e serviço comprometido, isto é o que faz com que uma
mãe seja muito famosa no âmbito do amor. Enquanto o amor de casal está baseado
no modelo original recebido do casal divino, formado pela divindade masculina
original e a divindade feminina original, Sri Sri Radha Govinda.
Sobre
o amor do casal divino foi escrito muitos textos. Um dos livros mais
importantes à respeito do amor divino é o Gita Govinda de Srila Jayadeva
Goswami que vai muito além da nossa concepção de amor. Sri Isopanisad é outro
livro que revela que a origem suprema de tudo é o amor por Sri Radha; esse
tópico também tem sido mencionado no Bhagavad Gita onde Sri Krishna disse que
ao se refugiar nEle, podemos alcançar o nível mais elevado da consciência de
Vraja, o amor de Vraja, que é o amor de Radha e das Gopis por Krishna, além
disso, Sri Krishna acrescenta: “Não temas, Eu vou te proteger, apenas se
refugie.”
sarva-dharman
parityajya
mam ekam saranam
vraja
aham tvam
sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah
O conceito de se refugiar no amor divino me
faz recordar do ditado que fala: “Sem risco, não há ganhos”, pois rendição,
disse Srila Prabhupada, é o único jogo de azar autorizado. Na rendição a Deus,
tomamos todos os riscos para o maior dos benefícios. De todas as maneiras, na
vida diária tomamos muitos riscos não muito espirituais, então por que não nos
arriscarmos pelo amor divino? Só o fato de comer é um risco, pois não sabemos
se algo do que está comendo te pode cair mal; caminhar também é um risco,
porque a qualquer momento um carro pode vir e ser atropelado; se casar também é
um risco, porque não sabe o que vai acontecer no futuro com a sua família.
Estamos rodeados pelos riscos. A rendição ao amor divino é um risco onde
devemos oferecer o coração por completo. Como não podemos servir diretamente a
todas as pessoas e entidades vivas, então oferecemos o coração a Deus que é a
fonte de tudo isso e dessa forma serve a toda Sua criação.
Esse aspecto da espiritualidade onde o
serviço rendido a Deus e aos Seus servos beneficia a toda humanidade, se vê
refletido na vida monástica. Isso foi o que mais gostei desta forma de vida,
porque permite se entregar a Deus por completo e fazer serviço para todo o
mundo sem o limite de uma só família. Hoje em dia me sinto feliz por ter sido
inspirado em tomar essa decisão que me permitiu conhecer a tantas pessoas
maravilhosas que posso servir. Atrevo-me a dizer que não existe uma vida mais
maravilhosa que a vida de renúncia e mais maravilhosa ainda é a vida de
renúncia em serviço do movimento de harinama-sankirtan de Sri Caitanya
Mahaprabhu, onde podemos oferecer todo nosso amor e serviço ao mundo inteiro.
Uma vez, os devotos chegaram muito
entusiasmados para me mostrarem um filme consciente chamado “A Corrente do Bem”
(“Cadena de favores” ou “Pay It Forward”) onde uma
criança pregava que nós deveríamos fazer um favor a três pessoas desconhecidas
e quando elas perguntassem por que o fazia, se respondia: “Para que você faça o
mesmo”, e assim se criava uma corrente de pessoas amáveis fazendo favores a
outras pessoas. Mas o meu Mestre Espiritual deu uma instrução ainda mais
potente, disse que do momento em que levantar até o quando deite, devemos fazer
favores desinteressados a todas as pessoas que encontrar e não favores para o
seu benefício material, senão que favores para o bem-estar de sua alma.
Assim é a vida de sankirtan, um
exemplo constante de sacrifício e serviço desinteressado que dificilmente pode
ser comparado; especialmente no ashram monástico, pois dedicamos toda nossa
energia para levar o processo espiritual com muita dedicação porque não temos
mais expectativas: não precisamos de uma casa, nem uma cama, nem uma cadeira,
muito menos uma televisão, só precisamos de tempo para servir, servir e servir.
Tudo isso na própria prática, porque a vida de renúncia é só prática, nada de
teoria. Há uma frase que me identifica muito: “Tudo o que não der é o que vai
perder”, essa afirmação me faz pensar que devo entregar tudo o que tenho em
forma de serviço sempre e o mais rápido possível, senão vou perdê-lo. Como
monge, não tenho muito, materialmente falando, mas sim tenho meu amor, meu
coração, minha palavra e o conhecimento recebido do meu Mestre Espiritual, tudo
isso já é muito para entregar.
O mundo material, em troca, nos
leva ao egoísmo mais profundo, a tocar fundo guiado pela autossatisfação. No
mundo material não existe a palavra “amor” ou “serviço desinteressado”, tudo
está baseado no interesse pessoal. Se quiser aprender o significado real da
palavra “amor”, deve fazer o bem a todos e começar por você mesmo; não tem
sentido dizer que ama a sua mãe enquanto se droga ou intoxica. Não podemos
falar de amor enquanto prejudicamos aos outros, ou pior ainda, enquanto somos
responsáveis pela morte de milhares de animais nas indústrias de carne. Isso
não é mais do que choro de crocodilo que mata sua presa e “chora” enquanto a come. Em outras
palavras, o amor que buscamos com o
coração, esse amor divino, tem um preço que não é só teoria, não é só
apreciação intelectual, é um sacrifício concreto e constante; são os passos
para a conduta do sanatan-dharma. O Srimad Bhagavatam declara que o verdadeiro
dever do ser humano é fazer aquilo que desperta nele um desejo intenso de
render serviço ininterrupto e imotivado para Deus.
Se meditarmos no casal divino,
podemos confirmar que não há nem o mínimo sintoma de competição entres eles, ou
se houvesse seria apenas competição por satisfazer e servir de melhor maneira o
outro. Onde cada um deles deseja se situar aos pés do outro, servir de todo o
coração em um espírito de escravidão divina. Esse mesmo sintoma experimentam as
Gopis, as melhores servas do casal divino. Em uma ocasião, Sri Krishna disse
que tinha uma grande dor de cabeça e só o pó dos pés de Seus devotos poderia
salvá-Lo de tal dor. Assim, mandou Narada Muni buscar a medicina tão especial,
mas cada pessoa que ele perguntava, respondia que não podia lhe dar o pó de
seus pés, porque era muito caído e se esse pó tocasse a cabeça de Sri Krishna
ela iria diretamente ao inferno, pois é a maior ofensa que se poderia
considerar. Narada Muni ficou muito frustrado, buscava e buscava, mas não
encontrava ninguém que desse o que o Senho precisava. Até que lhe sugeriram que
fosse a Vrindavan e falasse com as Gopis. Narada chegou até elas e pediu o pó
de seus pés para levar a Sri Krishna, as Gopis imediatamente juntaram todo o pó
que havia no chão e o entregou a Narada sem o mínimo temor. Narada perguntou se
não acreditavam que haveria alguma reação por este ato, mas elas disseram: “Não
faça perguntas tontas, corra logo porque Krishna está sofrendo. Se tivermos que
ir ao inferno para que Krishna se alivie, então iremos.” Desta forma, Narada
Muni viu a natureza do amor das Gopis.
Poderíamos pensar: Que tipo de
história é essa onde Deus chora pelo amor de Seus devotos? Na verdade, não
podemos compreender, está muito além dos limites do nosso pequeno entendimento.
Isso que é fascinante do bhakti-yoga, tudo o que um devoto faz está na linha de
satisfazer ao centro divino, ao mais querido Senhor Krishna e tudo o que Sri
Krishna faz é satisfazer a joia de Seu amor, Sua mais querida. Por isso oramos
para servir à divindade feminina, enquanto no mundo material as pessoas brigam
para serem o controlador masculino de tudo. A natureza do mundo espiritual é o
oposto: todos se subjugam ao Controlador Supremo.
Assim, cantamos:
“Óh,
a mais querida do encanto infinito! Teu serviço anseia este pecador, Só de
Krishna , de Teu amado Krishna, Podes dar-me Seu amor. Rainha de Vrindavana,
tanto Te ama Rama, Tua graça venho a implorar, Por tanto amar-te, Ele não te
nega nada, Tua é minha alma pela eternidade.”
Isto quer dizer, orar pela entrega completa ao casal
divino, se situando no lado feminino como um assistente. Na linguagem do
bhakti-yoga isto se chama: meditação sobre a posição constitucional da alma. Em
outras palavras, trata-se de se lembrar que temos um corpo eterno que não
deixará de existir quando este corpo material seja comido pelos vermes, e tal
corpo eterno tem uma função eterna, uma ocupação perene que está baseada no
sacrifício em busca do amor mais elevado.
Devemos
ver a divindade em todos os seres, pois Krishna disse no Bhagavad Gita: “Quem
Me vê em todos os lugares e vê tudo em Mim, Eu nunca Me separo dele e ele nunca
está perdido para Mim.” Krishna está conectado com cada um de nós, porque
Krishna nos ama, porque reside em nosso coração. Não é possível estar separado
dEle e Ele nunca se separa de nós. Krishna disse: “Eu te amo e quero te dar
conhecimento, lembrança, esquecimento, mas a Mim só pode conhecer com o teu
amor, com tua rendição, não com desconfiança ou especulação intelectual. Sou acessível
somente com as lágrimas sinceras do teu coração.”
Sri
Krishna também é chamado de Rama ou Radha Ramana, que significa “O que quer
satisfazer a Radha”, assim, nossa meditação deve ser uma súplica, uma oração à
terra sagrada de Vraja; a terra de Vrindavan onde todos cantam “Jay Radhe, jay
Radhe” que quer dizer: “todas as glórias à divina companheira do Senhor
Supremo.” Srimati Radharani domina o coração de Vraja Mandal. Isto continua
sendo difícil de compreender, trata-se de uma história de amor que pode cativar
nosso coração cheio se compreender e servir. Sri Radha-Krishna são o modelo do
amor divino, são o maior amor que podemos aspirar a conhecer e servir.
O
dever de qualquer pessoa é servir este amor divino, seja você um monge ou chefe
de família. Se alguém decide se casar, então o seu dever se transforma em se
tornar fiel ao seu par para compreenderem juntos o amor divino e levar aos seus
filhos e aos que te rodeiam para essa compreensão. A Consciência de Krishna é o
compromisso com o amor ilimitado. Sri Krishna é totalmente místico e possui
diversos aspectos confidenciais que vão muito além deste mundo temporal e nas nas
quais nos imerge dependendo do nosso grau de rendição. É só o poder da rendição
e da entrega incondicional do coração que nos leva ao ponto máximo do amor, até
não sentir nenhuma atração pelo mundo material. Krishna disse no Bhagavad Gita
que por pensar nEle no momento da morte, nós iremos a Ele.
Mas,
o que acha de no momento da morte estar prestes a chegar ao mundo espiritual e
te oferecerem a ser o rei da Terra? Decide voltar outra vez? Devemos estar
dispostos a superar todo tipo de tentações que nos afastem do amor divino. Estamos
em análise constante para provar nossa determinação e sinceridade no processo
da rendição. Quanto vale o amor? Voltaria a comer carne por um milhão de
dólares? Claro, se for um aspirante a devoto que anseia servir ao seu mestre
espiritual, você responderia “não”, porque a relação que tem com Deus e com Seu
devoto está por cima de qualquer outra conquista, prazer ou posição no mundo
material, pois de que serve possuir o mundo inteiro se perderá a sua alma? O mundo
está cheio de amor, de oportunidades para se render ao amor divino, mas se não
se determinar em sacrifício para isso, as influências externas virão te testar
e começará a ansiedade, a tristeza, a frustração, a desilusão, a intoxicação, a
fraude, a traição e assim ficará doente ao não poder apreciar o amor
verdadeiro.
A
vida no mundo material é uma universidade dirigida por Maya Devi, onde as
provas à sinceridade estão à ordem do dia, onde a cobiça faz com que as pessoas
anseiem por realizações materiais que não têm nenhuma relação com o verdadeiro
amor, pelo contrário, os devotos consagrados lutam para não se identificarem
com o temporal e não se apegam a nada mais do que seu serviço aos pés de seu
mestre espiritual, se mantendo sempre satisfeitos e dispostos a servir.
Talvez
tudo isso lhes soe muito utópico, ou parecerá que sou um mentiroso fazendo propaganda
à vida de renunciante; devo admitir que esta vida não é fácil, que é uma provca
contínua. Sem dúvidas é uma realidade e a mim a tem. Há muitos devotos e
devotas, no passado e no presente, que se dedicam por completo ao serviço a
Deus; que não recebem nada mais que o próprio benefício de seus sacrifícios e,
além disso, são felizes e todos que se encontram com eles se tornam felizes.
Assim,
os seguidores de Srila Prabhupada e de seu movimento de sankirtan-yoga têm as
portas aberas para se tornarem verdadeiros servos da humanidade onde quem não
pode viver como monge também tem todas as oportunidades para se consagrar cheio
de seu dever familiar e fazer serviço devocional. Tudo o que o aspirante
sincero busque, poderá encontrar nos ashrams de Srila Prabhupada à serviço da
humanidade. Ele nos convidou a sermos parte desta escola e formou em toda parte
ao redor do mundo, inclusive em sua própria casa.
Se
buscar a luz, comece acendendo a luz do seu coração e a leve a sua casa, ao seu
trabalho, a todos os lugares que for. Leve a prasada do Senhor a todos, pois a
comida santificada por Deus tem a potência de despertar o amor no coração pela
fato de estar saturada da energia da mais profunda oferenda em meditação; a
prasada é um alimento que cura o coração aflito e que tem que tomar com
agradecimento e entregar com compaixão.
Agradeço
por compartilhar os ensinamentos de Srila Prabhupada mais um dia, obrigado por
me permitirem falar sobre o amor mais importante que recebi e que tenho tentado
apresentar da melhor forma que posso, mesmo que seja só um extrato do amor
divino que está preenchido de muitos mais detalhes.
Com
todo o meu afeto.
Seu
sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.